quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Comportamentos Inadequados


Por Miquéas Daniel Gomes



Ultimamente tenho notado em mim um hábito que acredito ser comum em pais cujos filhos estão na fase da descoberta de que podem “fazer” muitas coisas por conta própria (no meu caso alias, tenho a sensação de estar lidando com um Macgyver de 2 anos).  E que hábito é esse? Simples, sempre que vejo um bebezinho, reclinado calmamente sobre o ombro de seu pai ou sua mãe, chamo a atenção de meu filho para a cena e disparo: -  “Veja Nicolas como aquele “nenê” é bonito e quietinho... Você também já foi assim, porque não faz igual a ele e fica quieto só um pouquinho”

Entenda o meu raciocínio: Sei que minha mente é bem mais evoluída que a do meu filho e que exatamente por isso toda minha retórica soara como meras palavras em seu inexperiente ouvido. Caso eu decida me posicionar em relação as suas peraltices infantis, um acesso de fúria (que alias é bem provável) lhe será entendido apenas como mera maldade e minha complacência poderá parecer aos seus olhinhos como aprovação. Então se eu lhe mostrar que alguém de sua mesma realidade pode ter o mesmo tipo de comportamento que eu desejo que ele tenha, talvez haja de fato um efeito mais satisfatório sobre ele. Ensinar pelo exemplo de outro; de alguém com quem o aprendiz possa se identificar.

Tudo bem, a psicologia moderna talvez desconsidere completamente este meu conceito, mas sei de alguém que já o aplicou inúmeras vezes e algum resultado sempre surgiu, alias,  você também deve conhece-lo muito bem. Seu nome é EU SOU, mas pode chama-lo de Pai Nosso que estas nos céus...

Palavras já não surtiam efeito sobre o povo de Israel. Mais mimado que filho único na casa da avó, mas rebelde que adolescente em festa de formatura, mais irresponsável que um jovem apaixonado pela pessoa errada. Centenas de profetas ao longos dos séculos, mais de 600 preceitos da lei passados de geração a geração, e nada disso estava gerando o resultado que se esperava.  Então entra em cena um novo conceito e pra aplica-lo, Deus levanta um profeta que terá por bandeira ministerial a celebre frase: EDUCAR PELO EXEMPLO.


Eu estou falando de Jeremias, filho do sacerdote Hilquias, jovem humilde, meigo, introspectivo, poético, grande pesquisador (alguns creditam a ele os relatos do Livro dos Reis), garoto escolhido desde o ventre de sua mãe para pregar arrependimento e destruição em Judá, Jerusalém e no Egito. Seu difícil ministério lhe trouxe muitos aborrecimentos pois foi desprezado pela família, humilhado pelo povo, foi preso e lançado num calabouço, teve sua morte decretada pelo rei Jeoaquim e chegou até a duvidar da veracidade de sua própria profecia. Mas a grande peculiaridade do ministério de Jeremias foi trazer a revelação de Deus usando elementos reais e palpáveis para que a mensagem fosse plenamente entendida, exemplos simples do cotidiano para as mais complexas realidades espirituais. Da popular descida a casa do oleiro para o entendimento da capacidade da restauração que há na mão Deus através do vaso que se quebrava e era consertado (Jr. 18) , até o fétido cinto de linho usado pelo profeta após ter sido deixado por  meses sob uma pedra limbenta a beira do rio Eufrates  para que o povo contemplasse com os próprios olhos a podridão de seus pecados (Jr. 13), Jeremias quebrou uma botija diante dos sacerdotes para exemplificar o que Deus faria com a casa de Judá (Jr 19); comprou de volta as terras perdidas por seu primo distante Hamamel numa mensagem pratica de que Deus resgataria seu povo do exílio caldeu (Jr. 32) e escondeu pedras dentro da casa de Faraó para evidenciar que aquele lugar seria tomado por Nabucodonosor (Jr. 48), além disso o profeta não pode se casar, como um sinal dos filhos que não nasceriam por causa da mortandade e destruição que estavam por vir (Jr. 16). Tudo muito pratico. Exemplos fáceis de serem entendidos pelo povo. Pena que o povo nunca quis entender.
Mas quero me atentar ao que acontece no capitulo 35 de seu livro. Uma aula pratica e literal sobre obediência, prudência e comprometimento.
O cenário é de desolação espiritual. Judá, o reino do Sul vive dias negros sob o reinado de Jeoaquim. Ostracismo e apostasia são as palavras de ordem. A nação santa age como uma criança desobediente e as palavras do Pai todo poderoso já não surtem efeito. Então Deus decide trazer uma criança comportada pra dentro da casa e através do seu bom exemplo mostrar ao filho mal educado como é que se deve comportar.
Judá é a criança desobediente que vem da linhagem de Abraão. A visita comportada vem da linhagem de Recabe. Nunca a inversão de valores foi mais  plausível e evidente.
A ordem é simples e direta. Deus ordena ao profeta que vá aos recabitas e os convide a subir a casa do Senhor. Chegando lá, o profeta os deveria conduzir a uma das câmaras e lhes servir vinho. E assim o profeta faz. Os recabitas não se opõem a nada. Jeremias entre em consenso com Jazanias o chefe da família e todos obedientemente seguem ao seu líder, sobem a casa do Senhor, entram na câmara e se assentam, mas quando o vinho é servido, Jeremias se vê diante de uma inesperada negativa:  - “Obrigado, mas não bebemos vinho.”
Não bebem vinho? Mas por quê? Os judeus amavam uma boa taça de vinho, não haveria motivo para continuar uma festa se o vinho acabasse. E agora, mesmo sendo uma garrafa especial, de uma safra especial, de um vinhedo especial os recabitas se negam a degustarem nem que seja uma única gota dessa preciosidade, este era um fato realmente inusitado.
Vem então a pergunta lógica: Porque vocês os recabitas não bebem vinho? E a resposta foi um duro golpe para um povo tão desobediente. – Porque nosso pai Jonadabe disse para que nós nunca bebêssemos vinho.
Uau. Filhos obedientes a voz de um pai? Isso sim era novidade em Judá.
Jonadabe vivera a mais de 200 anos antes. Não era judeu e logo seus descendentes também não seriam. Mas nem por isso deixou de aproveitar das bênçãos abraamicas selando um pacto de amizade com o rei Jeú. Este pacto alias, foi forjado no zelo e lavrado com sangue. Após assumir o trono de Israel e varrer a casa de Acabe do mapa; Jeú decide limpar a nação da imoralidade religiosa exterminado todos os servos de Baal que ainda estavam vivos. Enquanto se dirigia para o covil da idolatria, ele se encontra com Jonadabe que seguia na mesma direção e com o mesmo proposito. Ao vê-lo caminhando sob o sol, o rei para o carro e lhe inquire quanto a sua intenção e nesse momento, mediante a exposição da verdade, uma união é estabelecida e eles se tornam aliados.
Reto é o teu coração, como reto é o meu coração? É – respondeu Jonadabe. Então se é, dá-me a mão, e fê-lo subir em seu carro. E disse: - Vai comigo, e veras o meu zelo para com o Senhor. E o puseram no seu carro (II Rs 10:15,16).
Juntos, eles expurgaram a idolatria de Israel e reacenderam a chama do zelo do Senhor. Deles contou-se as historias e de ambos se ouviram os ensinamentos. Os descendentes de Jeú se esqueceram das palavras de seu pai. Os filhos de Jonadabe não.
Os recabitas viviam livres, habitavam em tendas e não cultivavam plantações. Estavam cercados por um povo apostata, mas faziam questão de serem fieis as suas origens. Olhavam pela janela e viam maus exemplos por todo o lado, mas mantinham se fieis ao exemplo dado dentro de sua casa.
Sob os recabitas não pesava os encargos da lei de Moisés. Eles porem guardavam e zelavam por três mandamentos deixados a mais de dois séculos por Jonadabe.
- Não beber vinho em nenhuma hipótese
- Não construir casas de alvenaria e apenas habitar em tendas
- Não plantar e nem colher.
Num primeiro momento, não me parecem mandamentos com muita profundidade, afinal que mal há numa dose de vinho ou qual o problema de se ter uma boa casa e manter para si uma  plantação? Mas quando paro e reflito nestas proibições, elas me soam como alarme para três perigos muito reais:  a Loucura, a Acomodação e  o Despreparo.
O Vinho da Loucura
Existem ao todo mais de 230 referências ao vinho na Bíblia Sagrada, sendo que não encontramos nenhuma objeção formal quanto à apreciação deste produto em pequena quantia, mas a contra partida, as referências que fazem menção direta ao consumo do mesmo, nos mostram o quão nocivo ele pode vir há ser. O vinho como qualquer outra bebida alcoólica causa a curto prazo efeitos como resseca, cansaço, má aparência, distúrbios de personalidade, diminuição de raciocínio e comprometimento dos reflexos. A longo prazo, os efeitos clínicos são ainda mais devastadores e quem diz isso nem é Bíblia mas sim a medicina moderna. Entretanto os textos sagrados vão ainda mais além, colocando o beberrão a beira do abismo da loucura. Em sua carta aos Efésios (5:18), Paulo aconselha o afastamento do vinho, pois nele existe contenda ( entenda se aqui um leque de variações: rixa, discórdia, rebelião, divorcio, intrigas, adultério, assassinato...); Salomão reforça este pensamento em Pv. 14:17 dizendo que no vinho há violência e em Pv. 20:1 ele diz que o vinho é “escarnecedor” e se fizermos uma  rápida analogia com o primeiro salmo, saberemos que o justo anda exatamente na direção oposta ao escarnecimento. Pra concluir meu raciocínio quanto a loucura que esta camuflada no vinho, lembro-me  de mais uma perola do sábio Salomão quando escreveu que aquele que ama o vinho nunca será prospero (Pv. 21:17) e do profeta Oséias que nos afirma que o vinho nos tira a inteligência (Os. 4:11).
A Casa da Acomodação
Aos recabitas era proibido  construir e morar em casa de alvenaria, portanto eles habitavam em simples tendas, para que nunca perdessem a essência de sua identidade absoluta. Eles poderiam viver muito bem em Judá, mas ainda eram peregrinos em uma terra estranha. Morar em casa de tijolos, imobiliada, com área de serviço e churrasqueira poderia dar a sensação boa de conforto, estabilidade e segurança, mas por outro lado roubaria a agilidade na hora da partida, afinal, peregrinos vivem em prol de um único momento; o exato momento de voltar pra casa. A própria nação de Israel viveu assim durante os anos de peregrinação no deserto, morando em tendas desmontáveis e de fácil transporte para que quando Deus desse a ordem e a nuvem movesse pelos céus, todo o povo pudesse desmontar as barracas e caminhar rumo ao lar. Se casas fossem construídas, talvez a grande maioria decidisse ficar pra trás. Pra que seguir em direção a um lar se você já construiu outro? E o que fazer com cada tijolinho suado, cada móvel comprado em suaves prestações?  É fácil se apegar a um lar e a tudo que ele possui e representa e num cenário espiritual isso nos leva a acomodação e perdemos a vontade de seguir em frente. De peregrinos em terra estranha passamos a moradores locais com os mesmos hábitos, as mesmas rotinas e os mesmos anseios das terras do exilio e provavelmente perderíamos a essência de nossa existência terrena: a saudade do céu.
Plantando o Despreparo
Até este ponto é fácil entender as proibições de Jonadabe. Mas encontrar um motivo plausível para entender a proibição de plantar e colher me soa desafiador. Orando e buscando uma direção do Senhor me deparei com um texto do profeta Joel que diz: “Forjai espadas de vossas enxadas, e lanças de vossas foices, e diga o fraco: eu sou forte (Jl. 3:10)”. Neste texto me deparo com um cenário interessante: um povo ameaçado pelo inimigo que ao abrir seu arsenal militar só encontra enxadas, foices e fraqueza. O tempo de paz e calmaria foi longo. Não houveram ameaças ou perigos; não haviam guerras ou batalhas e o povo se esqueceu de como era lutar. Não haviam barreiras, obstáculos ou desafios e o povo não precisou mais ser forte. Dançavam e cantavam despreocupadamente. Plantavam, colhiam e festejavam a boa colheita. Tudo ia muito bem, até que o dia mal chegou e eles não estavam preparados. Precisavam de espadas, mas só tinham enxadas. Precisavam de lanças, mas só tinham foices e arados. Precisavam de força, mas só acharam fraquezas. O povo se dedicou a plantar e a colher, mas se esqueceu de como guerrear. Adaptaram-se ao ciclo seguro da terra, mas se esqueceram dos imprevistos da vida. Viviam de estação a estação, mas renegaram o dia após o dia. Quando não se planta, não se tem de onde colher, e a batalha pela sobrevivência se torna diária, deixando nos alerta e preparados 24 horas por dia, 365 dias por ano. Nunca somos surpreendidos pelo dia mal ou por nossos inimigos. Quando eles chegam, já estamos armados e prontos pra guerra. O próprio Jesus contou a historia de um homem que após a maior colheita de sua vida, ordenou a sua alma que descansasse, pois os celeiros estavam transbordando, mas naquela mesma noite sua alma foi pedida, e pra onde ia, aquele homem não tinha nada a levar. As vezes nossa plantação tira o nosso foco do que realmente vale a pena ser cultivado.

Estas são apenas conjecturas que lampejam em minha mente no afã da madrugada. O zeloso patriarca dos recabitas teve lá suas próprias motivações ao estabelecer tais preceitos ao seu povo. Talvez as razões sejam ainda mais nobres e profundas para o meu limitado conhecimento, ou talvez fossem apenas por mero capricho (quem sabe ele fosse alérgico a vinho, sentisse raiva de pedreiros e tivesse sido picado por uma abelha em um pomar). Deus não questionou os preceitos e nem as motivações intrínsecas nos mesmos. Não disse se estavam corretos ou equivocados, se eram justos ou imponderáveis. Deus apenas elogiou a obediência dos recabitas aos mandamentos de seu antepassado e trouxe uma mensagem valiosa para Judá através do exemplo desta gente.
 “Sim, é possível obedecer a um mandamento. Sim, É possível mudar um comportamento. Sim, é possível dar ouvidos a voz de um pai!”
Os recabitas continuaram zelando por seus preceitos e por isso Deus lhes fez a promessa que estaria diante deles para sempre. Nas palavras de Francisco de Assis, “o profeta morreu como viveu, de coração quebrantado pregando a um povo irresponsável”. Quanto a Judá, não ouviu a voz de seu pai antes, não aprendeu com o exemplo dado e continuou não ouvindo a voz de seu pai depois. Foi destruído como nação pelos babilônicos e seus sobreviventes viveram a dor do exílio por 70 anos.
Como pai, minha primeira forma de corrigir meu filho é sempre falando com ele, apontando seu erro e mostrando como e onde corrigir (varias e varias vezes). Se ele não me entende, como disse no começo deste texto, vou procurar uma criança comportada em volta e tentar mostrar na pratica como é bonito alguém que obedece ao seu papai. Se não funcionar... Ai só me resta aplicar nele um bom castigo. Sabe qual é o nome desta técnica em três etapas: AMOR.
 Aprendi esta com Deus..
Falando nisso, pequena criança, como anda seu comportamento, hein?




segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Deus não comete erros





Escrevi meu testemunho para a edição nº 35 do Informe Gospel, um periodínico oficial de nossa igreja.
Contei um pouco de minha história, do meu testemunho e dos milagres que Deus realizou em minha vida, e quero compartilhar esta historia com você também, afinal sou uma prova viva de que Deus não erra, mesmo que pareça ter errado com você; pois no final sempre haverá um proposito maior em tudo o que ele faz!




Por Miquéias Daniel Gomes


Eu te louvarei, porque de um modo terrível  e tão maravilhoso fui formado, maravilhosas são as obras das tuas mãos e minha alma o sabe muito bem.
Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos firam o meu corpo ainda informe, e no teu livro foram escritas todas as coisas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia!
(Salmo 139: 14,15 e 16)




A espera pelo nascimento de um filho é um momento mágico e especial... Mas confesso que pra mim foi um período de grande sofrimento emocional. Não me entenda mal, é claro que eu estava ansioso pela chegada do meu filhotinho, mas ao mesmo tempo estava profundamente angustiado pela imensa possibilidade de ver se repetir nele a história da minha vida...


Nasci no dia 3 de julho de 1984, primeiro filho do Pr. Wilson Gomes e da Dca. Marcia Antônia Quaresma Gomes, mas aquele momento de esfuziante alegria foi transtornado com uma notícia terrível. Eu nasci com uma deformidade crânio facial causada por uma anomalia que é popularmente conhecida como lesão lábio-palatal. A fissura palatina é uma malformação congênita caracterizada por uma alteração ocorrida entre a quarta e a sétima semanas de vida intra-uterina, levando a uma falha na fusão dos processos palatinos. Pode envolver o pré - palato, situado anteriormente ao forame incisivo, o palato duro e/ou o palato mole e normalmente está associada a fissuras labiais.  Resumindo: meu lábio era fendido e meu palato (céu da boca) não passava de uma cratera. 

As fissuras, principalmente as de palato, causam dificuldades alimentares . Com o processo de sucção prejudicado, a quantidade dos alimentos ingerida nem sempre é suficiente para suprir as necessidades do bebê, resultando em pouco ganho ponderal. Este quadro é agravado pelo escape de alimentos pelo nariz e ingestão excessiva de ar que provocam vômitos, engasgos e perdas de alimentos. Além disto, são comuns as infecções de ouvido e as pneumonias aspirativas. Com tudo isso minha mãe não pode me amamentar, pois minha alimentação precisou ser ministrada através de seringas e sondas. Passei pela primeira cirurgia aos 10 meses de vida onde tive meu lábio suturado, e com poucos mais de um ano comecei a ter o palato reconstruído artificialmente e continuei com procedimentos cirúrgicos até os meus 23 anos, quando depois de uma cirurgia para desobstrução do septo nasal, decidi que era hora de parar com o tratamento.


Os médicos disseram aos meus pais que eu não teria condição de desenvolver a fala e se com sorte eu falasse seria com muita dificuldade e com uma entonação tão distorcida que seria quase impossível de alguém me entender. Fui encaminhado a uma fonoaudióloga que já nas primeiras seções me deu alta, pois contra todas as possibilidades minha fala era quase perfeita.

A estrutura óssea de minha gengiva se deformou e meus dentes nasceram fora de posição, sendo que alguns deles se encavalaram e em outras áreas não havia dentição, o que me obrigou a um tratamento dentário a base de todo tipo de aparelho ortodôntico por longos 12 anos.


Não respirava pelo nariz, vivia com a boca e a garganta seca e tudo isso atrapalhava meu sono. Praticamente não sentia cheiro de nada e mal sentia o gosto dos alimentos... As minhas amídalas eram maiores que o convencional e com um resfriado qualquer elas inchavam e encostavam uma na outra obstruindo a única passagem de ar que eu possuía para respirar e com isso tive inúmeras crises respiratórias. Também não tinha (e ainda não tenho) a úvula, conhecida também como “campainha da garganta”, e que funciona como um alarme que avisa quando algo esta passando pela nossa garganta e aciona o fechamento das vias respiratórias para que os alimentos não cheguem as cavidades nasais ou na traqueia, e nesse caso, sem essa proteção natural, posso afirmar que quem tem me protegido é Deus. Por outro lado, a úvula e o palato mole exercem uma função de grande importância na fonação, pois modificam o timbre de um fonema e são essenciais na articulação das palavras, e é exatamente por isso  que minha voz deveria ser incompreensível, mas incompreensível mesmo é como eu falo sem dificuldades alguma, mesmo com essa deformação (essa os médicos continuam me devendo uma explicação “cientifica” e todo mundo põem na conta de Deus mesmo).


Passei por implantes, enxertos, extrações e por horas infindas em mesas de otorrinos, cirurgiões plásticos, ortodontistas e protéticos. Passei mais de 20 anos em constantes, desgastantes e desagradáveis viagens à Bauru para  realizar consultas no Hospital de Lesões Crânio Faciais da USP, local aonde apesar do sofrimento,  conheci histórias de pessoas que me faziam sentir que minha condição era nada comparada a delas. Ali evangelizei, servi de testemunho e cresci muito como ser humano, aprendendo a valorizar a vida e a ver beleza no grotesco e no feio.


Mas fora dali, sempre houve um lado tão ou ainda mais devastador que a própria anomalia física, as de aspecto emocional. Fui motivo de piadinhas e chacotas durante toda a minha vida devido às sequelas e cicatrizes que existem em meu rosto. Me senti isolado, inseguro, por vezes chorei e me escondi do mundo, mas no fim das contas sempre me superei com a graça de Deus, o apoio de minha família e uma boa dose de amizades leais... Pra quem não falaria, hoje eu ministro, canto e glorifico ao Senhor, pois passei de pé onde muita gente bem melhor do que eu não passaria de joelhos e tenho certeza que teria forças o suficiente pra passar por tudo outra vez, mas confesso que não suportaria ver meu filho passando por esta mesma estrada... E a possibilidade disto acontecer era muito grande.


A anomalia está no gene masculino, ou seja minha genética favorecia a hereditariedade da doença, e pra completar eu me apaixonei e casei  com uma moça linda cujo irmão tem o mesmo problema... A possibilidade do nosso filho nascer com a anomalia? Uns 95%? Uns 10%? Que diferença fazia... Qualquer perspectiva era capaz de me tirar a paz e o sono.


Sofri e chorei escondido durante os meses de gestação, tentando mostrar uma força que na verdade não existia... Minha esposa Valquíria teve uma gravidez muito difícil onde o inimigo lutou bravamente contra meu filho ainda no ventre, o que por muitas vezes me fez temer ainda mais pela saúde do meu garotinho; até que no dia 12 de novembro de 2010 o meu pequeno Nicolas nasceu... Perfeito, sem nenhuma anomalia genética, com a boquinha e o narizinho tão belos como os da mamãe... Lindo e Maravilhoso... A melhor surpresa que Deus já me fez... O presente mais que perfeito. 



Deus nunca muda, mas se renova a cada dia... 
Ele é o criador hábil e generoso que  não repete historias...
Ah, só pra não deixar duvidas: Deus não comete erros!


Eu, o Nícolas (hoje com 2 anos) e a minha esposa Valquíria


Eu Acredito: Miquéias Daniel e Lucas Gomes


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Encontro Marcado




O capitulo 25 de Mateus é sem duvida um dos textos mais viscerais de todo o cânon sagrado. Jesus sabia que seu tempo na terra estava se findando e ainda havia muito para ser ensinado, então ele reuniu os seus discípulos e começou a ensina-los sobre as verdades mais relevantes do Reino de Deus e o ensinamento começa com uma orientação muito simples e vital : Estejam preparados para a chegada do Reino!
Em sua forma tão singela e eficaz de transmitir sua mensagem, Jesus se utiliza de um recurso que lhe era muito peculiar, conta-lhes uma história a fim de que o entendimento de uma verdade tão profunda acontecesse de forma sutil, mas que se enraizasse nas entranhas das gerações. Uma historia sobre um casamento muito atípico... Com 10 noivas sonolentas e um noivo bem atrasado...  

1 Jesus disse: – Naquele dia o Reino do Céu será como dez moças que pegaram as suas lamparinas e saíram para se encontrar com o noivo.
2 Cinco eram sem juízo, e cinco eram ajuizadas.
3 As moças sem juízo pegaram as suas lamparinas, mas não levaram óleo de reserva.
4 As ajuizadas levaram vasilhas com óleo para as suas lamparinas.
5 Como o noivo estava demorando, as dez moças começaram a cochilar e pegaram no sono.
           
Numa primeira analise, não dá pra diferenciar as noivas... As versões mais originais as chamam de “virgens”... Todas... Sem exceções... Além disto o contexto nos mostra que todas tinham uma lamparina na mão, todas possuíam azeite e todas as lamparinas estavam acessas. Todas no horário marcado saíram de suas casas, adornadas e preparadas para se encontrarem com o noivo e adentrarem em sua festa. Todas chegaram praticamente juntas e ali, juntas permaneceram por longas horas... E todas foram pegas de surpresa com um fato nada convencional. O atraso do noivo...

Atrasos em cerimonia de casamento são comuns, toleráveis e até certo ponto “elegantes”... Isso é claro, se o atraso for da noiva. Poucas vezes em minha vida vi um noivo que tenha chegado depois de sua amada ao local da casamento (eu sou um deles... Afinal a Valquira não estava mais aguentando contar os segundos  para se casar comigo)... Em outra ocasião nada convencional, vi o ministro chegar na igreja 40 minutos após a noiva...

Mas é claro que nada se compara ao atraso do noivo desta historia contada por Jesus... O camarada chegou com praticamente um dia de atraso, já que no momento em que os primeiros alaridos de sua chegada são ouvidos, o relógio já marca quase meia noite e todas as moças, todas as 10,  sem nenhuma exceção, em algum momento da espera foram vencidas pelo sono e quando se anuncia a chegada do noivo, todas dormiam profundamente.

6 – À meia-noite se ouviu este grito: “O noivo está chegando! Venham se encontrar com ele!”
7 – Então as dez moças acordaram e acenderam as suas lamparinas.

Todas as moças acordaram de sobressalto... Limparam os olhos remelentos, baforaram na mão para conferir o hálito e tomaram suas lamparinas à mão; e se atentarmos ao textos veremos que “todas” as lamparinas estavam apagadas, afinal todo o azeite contido nos recipientes fora devorado durante as horas de cochilo... Cinco delas porem, calmamente abriram suas bolsas e retiraram de lá um pequeno vidro , abriram e ... ualá... azeite reserva... A escuridão não era mais problema pra elas. As outras cinco porem ao revirarem suas bolsas encontraram todo tipo de futilidades (ou não): escova de cabelo, rímel, perfumes, batom, espelho, remédios para dor de cabeça, agenda, cds e dinheiro... Mas no meio de toda essa tralha não encontraram nem uma gota de azeite. Com um sorriso amarelo no rosto olharam para as colegas mais precavidas e pediram emprestado um pouco do precioso fluido, mas como resposta tiveram uma negativa respaldada numa cautela digna de elogio – “Não nos levam a mal meninas, mas se emprestarmos azeite pra vocês, ele acabara faltando para todas nós e corremos o risco de as 10 ficarmos no escuro”; entretanto o conselho dado em seguida me parece nada cordial e até um pouco maldoso –  “Ei, temos uma grande ideia, porque vocês não correm até uma venda e compram mas azeite.”

6 – À meia-noite se ouviu este grito: “O noivo está chegando! Venham se encontrar com ele!”
7 – Então as dez moças acordaram e acenderam as suas lamparinas.
8 Aí as moças sem juízo disseram às outras: “Dêem um pouco de óleo para nós, pois as nossas lamparinas estão se apagando.”
9 – “De jeito nenhum”, responderam as moças ajuizadas. “O óleo que nós temos não dá para nós e para vocês. Se vocês querem óleo, vão comprar!”

Comprar azeite? A meia-noite? Que ideia mais estupida! Onde elas encontrariam uma venda aberta aquela hora? E se por acaso encontrassem tal lugar, seria o ambiente propicio para cinco noivas adentrarem? Havia alguma prudência nisso? Apesar de tudo isso, sem medir consequências, as moças saíram desembestadas rumo a cidade vazia e escura, batendo alucinadamente de porta em porta, mendigando um pouco de azeite, se afastando cada vez mais do local marcado para o encontro com o noivo. O grande problema é que quando elas se ausentaram o noivo chegou!

10 – Então as moças sem juízo saíram para comprar óleo, e, enquanto estavam fora, o noivo chegou. As cinco moças que estavam com as lamparinas prontas entraram com ele para a festa do casamento, e a porta foi trancada.

O noivo era zeloso e imponderável. Quando encontrou apenas cinco moças com suas lamparinas acessas reduziu imediatamente o numero de suas pretendentes pela metade. As conduziu em seu cortejo, entrou com elas no lugar preparado para a cerimonia e mandou trancar as portas. Ninguém mais iria entrar e isto incluía as outras noivas que não estavam no local marcado para o encontro. Mais tarde estas moças retornaram, não sabemos se conseguiram ou não o azeite, mas isto já não importa mais. Elas foram deixadas pra trás. Correram angustiadas ao lugar da festa e desesperadamente batiam a porta pedindo ao noivo que as deixassem entrar... Mas o noivo olhando pela porta deu ordem aos seguranças para que elas fossem retiradas dali, afinal ele nem se quer as conhecia. Quando se fica para trás, as desculpas e justificativas já não tem valor algum... E até o seu rosto é apagado da memoria.

11 – Mais tarde as outras chegaram e começaram a gritar: “Senhor, senhor, nos deixe entrar!”
12 – O noivo respondeu: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eu não sei quem são vocês!”

Mas qual será que foi o fato mais determinante para que o noivo as rejeitasse?

Será que elas eram mais feias que as demais?
Não... Elas haviam sido tão escolhidas pelos mesmos critérios que as outras cinco...

Será que foi porque dormiram?
Não... Afinal todas elas foram vencidas pela espera...

Já sei... Foi porque suas lâmpadas tinham se apagado.
Não... O noivo não as rejeitaria só porque as suas lamparinas estavam apagadas... Afinal o noivo estava vindo em um cortejo e luz para iluminar o caminho até a festa não faltaria...

Então onde esta o grande erro dessas meninas? Simples. 
Elas não estavam no local marcado para o encontro.

Faltou azeite? Sim... Isto é um problema? Sempre é... Mas sair pra conseguir repor esta falta exatamente correndo em direção oposta a do noivo?
Ah, este é o fato que determinou o destino insólito das moças.

13 E Jesus terminou, dizendo: – Portanto, fiquem vigiando porque vocês não sabem qual
será o dia e a hora.

Nesta parábola, a noiva é a igreja e o noivo é o próprio Cristo, emissário eterno do Reino. As dez virgens representam a grande variedade (o que não é um fato positivo) de micro-igrejas dentro da única igreja. Todas as noivas porem conhecem as regras: Estejam no local marcado, na hora marcada, com as lâmpadas acessas e azeite na botija...

O local do encontro é debaixo das asas do Senhor... Prostrado diante do trono em uma vida de entrega, renuncia e santificação.

A hora marcada? Ninguém por aqui sabe. Pode ser a meia noite, pode ser ao meio dia, pode ser amanhã, pode ser antes de eu concluir este texto... Por isso esteja pronto para o encontro “AGORA”... Lembro me de sempre ouvir do meu amigo Pb. Reginaldo em suas mensagens – O que você faria se tivesse apenas 24 horas até a volta de Jesus? Pois bem, você não tem 24hrs!

Mas é se eu pegar no sono durante a espera? A Bíblia diz que o noivo vira com alarido e voz de Arcanjo, mediante o som da ultima trombeta (I Ts. 4:16). Com um despertador destes, não há sonequinha que resista.

Mas é se minha lâmpada apagar? Ora, isso é simples... Reacenda-a! Afinal o Reino perfeito abrira as portas para uma multidão imperfeita, que reconheceu suas falhas, erros e pecados; se arrependeu deles e mediante a Graça de Cristo fizeram tudo novo, trazendo nova luz ao seu castiçal. (Ap. 2:5)

E se o azeite faltar? Simples... Compre!... Diretamente do noivo... Ele é dono de uma venda celestial onde o freguês encontra tudo o que precisa para estar preparado para o encontro. (Ap 3:18)

E o mais importante. Não se afaste do ponto de encontro. Pois se o noivo chegar e não te encontrar lá não haverá justificavas (por mais nobres que elas sejam) capazes de abrir as portas das bodas pra você!