segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Deus não comete erros





Escrevi meu testemunho para a edição nº 35 do Informe Gospel, um periodínico oficial de nossa igreja.
Contei um pouco de minha história, do meu testemunho e dos milagres que Deus realizou em minha vida, e quero compartilhar esta historia com você também, afinal sou uma prova viva de que Deus não erra, mesmo que pareça ter errado com você; pois no final sempre haverá um proposito maior em tudo o que ele faz!




Por Miquéias Daniel Gomes


Eu te louvarei, porque de um modo terrível  e tão maravilhoso fui formado, maravilhosas são as obras das tuas mãos e minha alma o sabe muito bem.
Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos firam o meu corpo ainda informe, e no teu livro foram escritas todas as coisas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia!
(Salmo 139: 14,15 e 16)




A espera pelo nascimento de um filho é um momento mágico e especial... Mas confesso que pra mim foi um período de grande sofrimento emocional. Não me entenda mal, é claro que eu estava ansioso pela chegada do meu filhotinho, mas ao mesmo tempo estava profundamente angustiado pela imensa possibilidade de ver se repetir nele a história da minha vida...


Nasci no dia 3 de julho de 1984, primeiro filho do Pr. Wilson Gomes e da Dca. Marcia Antônia Quaresma Gomes, mas aquele momento de esfuziante alegria foi transtornado com uma notícia terrível. Eu nasci com uma deformidade crânio facial causada por uma anomalia que é popularmente conhecida como lesão lábio-palatal. A fissura palatina é uma malformação congênita caracterizada por uma alteração ocorrida entre a quarta e a sétima semanas de vida intra-uterina, levando a uma falha na fusão dos processos palatinos. Pode envolver o pré - palato, situado anteriormente ao forame incisivo, o palato duro e/ou o palato mole e normalmente está associada a fissuras labiais.  Resumindo: meu lábio era fendido e meu palato (céu da boca) não passava de uma cratera. 

As fissuras, principalmente as de palato, causam dificuldades alimentares . Com o processo de sucção prejudicado, a quantidade dos alimentos ingerida nem sempre é suficiente para suprir as necessidades do bebê, resultando em pouco ganho ponderal. Este quadro é agravado pelo escape de alimentos pelo nariz e ingestão excessiva de ar que provocam vômitos, engasgos e perdas de alimentos. Além disto, são comuns as infecções de ouvido e as pneumonias aspirativas. Com tudo isso minha mãe não pode me amamentar, pois minha alimentação precisou ser ministrada através de seringas e sondas. Passei pela primeira cirurgia aos 10 meses de vida onde tive meu lábio suturado, e com poucos mais de um ano comecei a ter o palato reconstruído artificialmente e continuei com procedimentos cirúrgicos até os meus 23 anos, quando depois de uma cirurgia para desobstrução do septo nasal, decidi que era hora de parar com o tratamento.


Os médicos disseram aos meus pais que eu não teria condição de desenvolver a fala e se com sorte eu falasse seria com muita dificuldade e com uma entonação tão distorcida que seria quase impossível de alguém me entender. Fui encaminhado a uma fonoaudióloga que já nas primeiras seções me deu alta, pois contra todas as possibilidades minha fala era quase perfeita.

A estrutura óssea de minha gengiva se deformou e meus dentes nasceram fora de posição, sendo que alguns deles se encavalaram e em outras áreas não havia dentição, o que me obrigou a um tratamento dentário a base de todo tipo de aparelho ortodôntico por longos 12 anos.


Não respirava pelo nariz, vivia com a boca e a garganta seca e tudo isso atrapalhava meu sono. Praticamente não sentia cheiro de nada e mal sentia o gosto dos alimentos... As minhas amídalas eram maiores que o convencional e com um resfriado qualquer elas inchavam e encostavam uma na outra obstruindo a única passagem de ar que eu possuía para respirar e com isso tive inúmeras crises respiratórias. Também não tinha (e ainda não tenho) a úvula, conhecida também como “campainha da garganta”, e que funciona como um alarme que avisa quando algo esta passando pela nossa garganta e aciona o fechamento das vias respiratórias para que os alimentos não cheguem as cavidades nasais ou na traqueia, e nesse caso, sem essa proteção natural, posso afirmar que quem tem me protegido é Deus. Por outro lado, a úvula e o palato mole exercem uma função de grande importância na fonação, pois modificam o timbre de um fonema e são essenciais na articulação das palavras, e é exatamente por isso  que minha voz deveria ser incompreensível, mas incompreensível mesmo é como eu falo sem dificuldades alguma, mesmo com essa deformação (essa os médicos continuam me devendo uma explicação “cientifica” e todo mundo põem na conta de Deus mesmo).


Passei por implantes, enxertos, extrações e por horas infindas em mesas de otorrinos, cirurgiões plásticos, ortodontistas e protéticos. Passei mais de 20 anos em constantes, desgastantes e desagradáveis viagens à Bauru para  realizar consultas no Hospital de Lesões Crânio Faciais da USP, local aonde apesar do sofrimento,  conheci histórias de pessoas que me faziam sentir que minha condição era nada comparada a delas. Ali evangelizei, servi de testemunho e cresci muito como ser humano, aprendendo a valorizar a vida e a ver beleza no grotesco e no feio.


Mas fora dali, sempre houve um lado tão ou ainda mais devastador que a própria anomalia física, as de aspecto emocional. Fui motivo de piadinhas e chacotas durante toda a minha vida devido às sequelas e cicatrizes que existem em meu rosto. Me senti isolado, inseguro, por vezes chorei e me escondi do mundo, mas no fim das contas sempre me superei com a graça de Deus, o apoio de minha família e uma boa dose de amizades leais... Pra quem não falaria, hoje eu ministro, canto e glorifico ao Senhor, pois passei de pé onde muita gente bem melhor do que eu não passaria de joelhos e tenho certeza que teria forças o suficiente pra passar por tudo outra vez, mas confesso que não suportaria ver meu filho passando por esta mesma estrada... E a possibilidade disto acontecer era muito grande.


A anomalia está no gene masculino, ou seja minha genética favorecia a hereditariedade da doença, e pra completar eu me apaixonei e casei  com uma moça linda cujo irmão tem o mesmo problema... A possibilidade do nosso filho nascer com a anomalia? Uns 95%? Uns 10%? Que diferença fazia... Qualquer perspectiva era capaz de me tirar a paz e o sono.


Sofri e chorei escondido durante os meses de gestação, tentando mostrar uma força que na verdade não existia... Minha esposa Valquíria teve uma gravidez muito difícil onde o inimigo lutou bravamente contra meu filho ainda no ventre, o que por muitas vezes me fez temer ainda mais pela saúde do meu garotinho; até que no dia 12 de novembro de 2010 o meu pequeno Nicolas nasceu... Perfeito, sem nenhuma anomalia genética, com a boquinha e o narizinho tão belos como os da mamãe... Lindo e Maravilhoso... A melhor surpresa que Deus já me fez... O presente mais que perfeito. 



Deus nunca muda, mas se renova a cada dia... 
Ele é o criador hábil e generoso que  não repete historias...
Ah, só pra não deixar duvidas: Deus não comete erros!


Eu, o Nícolas (hoje com 2 anos) e a minha esposa Valquíria


Eu Acredito: Miquéias Daniel e Lucas Gomes


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