Por Miquéas Daniel Gomes
Ultimamente
tenho notado em mim um hábito que acredito ser comum em pais cujos filhos estão
na fase da descoberta de que podem “fazer” muitas coisas por conta própria (no meu caso alias, tenho a sensação de
estar lidando com um Macgyver de 2 anos). E que hábito é esse? Simples, sempre que vejo
um bebezinho, reclinado calmamente sobre o ombro de seu pai ou sua mãe, chamo a
atenção de meu filho para a cena e disparo: - “Veja Nicolas como aquele “nenê” é bonito e
quietinho... Você também já foi assim, porque não faz igual a ele e fica quieto
só um pouquinho”
Entenda
o meu raciocínio: Sei que minha mente é bem mais evoluída que a do meu filho e
que exatamente por isso toda minha retórica soara como meras palavras em seu
inexperiente ouvido. Caso eu decida me posicionar em relação as suas peraltices
infantis, um acesso de fúria (que alias é
bem provável) lhe será entendido apenas como mera maldade e minha
complacência poderá parecer aos seus olhinhos como aprovação. Então se eu lhe
mostrar que alguém de sua mesma realidade pode ter o mesmo tipo de
comportamento que eu desejo que ele tenha, talvez haja de fato um efeito mais
satisfatório sobre ele. Ensinar pelo exemplo de outro; de alguém com quem o
aprendiz possa se identificar.
Tudo
bem, a psicologia moderna talvez desconsidere completamente este meu conceito,
mas sei de alguém que já o aplicou inúmeras vezes e algum resultado sempre
surgiu, alias, você também deve
conhece-lo muito bem. Seu nome é EU SOU, mas pode chama-lo de Pai Nosso que
estas nos céus...


Mas quero me atentar ao que acontece no capitulo 35 de seu
livro. Uma aula pratica e literal sobre obediência, prudência e comprometimento.
O cenário é de desolação espiritual. Judá, o reino do Sul
vive dias negros sob o reinado de Jeoaquim. Ostracismo e apostasia são as palavras
de ordem. A nação santa age como uma criança desobediente e as palavras do Pai
todo poderoso já não surtem efeito. Então Deus decide trazer uma criança
comportada pra dentro da casa e através do seu bom exemplo mostrar ao filho mal
educado como é que se deve comportar.
Judá é a criança desobediente que vem da linhagem de Abraão.
A visita comportada vem da linhagem de Recabe. Nunca a inversão de valores foi
mais plausível e evidente.

Não bebem vinho? Mas por quê? Os judeus amavam uma boa taça
de vinho, não haveria motivo para continuar uma festa se o vinho acabasse. E
agora, mesmo sendo uma garrafa especial, de uma safra especial, de um vinhedo
especial os recabitas se negam a degustarem nem que seja uma única gota dessa
preciosidade, este era um fato realmente inusitado.
Vem então a pergunta lógica: Porque vocês os recabitas não bebem vinho? E a resposta foi um duro
golpe para um povo tão desobediente. – Porque
nosso pai Jonadabe disse para que nós nunca bebêssemos vinho.
Uau. Filhos obedientes a voz de um pai? Isso sim era
novidade em Judá.
Jonadabe vivera a mais de 200 anos antes. Não era judeu e logo
seus descendentes também não seriam. Mas nem por isso deixou de aproveitar das
bênçãos abraamicas selando um pacto de amizade com o rei Jeú. Este pacto alias,
foi forjado no zelo e lavrado com sangue. Após assumir o trono de Israel e varrer
a casa de Acabe do mapa; Jeú decide limpar a nação da imoralidade religiosa exterminado
todos os servos de Baal que ainda estavam vivos. Enquanto se dirigia para o
covil da idolatria, ele se encontra com Jonadabe que seguia na mesma direção e
com o mesmo proposito. Ao vê-lo caminhando sob o sol, o rei para o carro e lhe inquire
quanto a sua intenção e nesse momento, mediante a exposição da verdade, uma
união é estabelecida e eles se tornam aliados.
Reto é o teu coração,
como reto é o meu coração? É – respondeu Jonadabe. Então se é, dá-me a mão, e
fê-lo subir em seu carro. E disse: - Vai comigo, e veras o meu zelo para com o
Senhor. E o puseram no seu carro (II Rs 10:15,16).
Juntos, eles expurgaram a idolatria de Israel e reacenderam
a chama do zelo do Senhor. Deles contou-se as historias e de ambos se ouviram
os ensinamentos. Os descendentes de Jeú se esqueceram das palavras de seu pai.
Os filhos de Jonadabe não.
Os recabitas viviam livres, habitavam em tendas e não
cultivavam plantações. Estavam cercados por um povo apostata, mas faziam
questão de serem fieis as suas origens. Olhavam pela janela e viam maus
exemplos por todo o lado, mas mantinham se fieis ao exemplo dado dentro de sua
casa.
Sob os recabitas não pesava os encargos da lei de Moisés. Eles porem guardavam
e zelavam por três mandamentos deixados a mais de dois séculos por Jonadabe.
- Não beber vinho em nenhuma hipótese
- Não construir casas de alvenaria e apenas habitar em
tendas
- Não plantar e nem colher.
Num primeiro momento, não me parecem mandamentos com muita
profundidade, afinal que mal há numa dose de vinho ou qual o problema de se ter
uma boa casa e manter para si uma plantação? Mas quando paro e reflito nestas
proibições, elas me soam como alarme para três perigos muito reais: a Loucura, a Acomodação e o Despreparo.
O Vinho da
Loucura

A Casa da Acomodação

Plantando o Despreparo
Até este ponto é fácil entender as proibições de Jonadabe.
Mas encontrar um motivo plausível para entender a proibição de plantar e colher
me soa desafiador. Orando e buscando uma direção do Senhor me deparei com um
texto do profeta Joel que diz: “Forjai
espadas de vossas enxadas, e lanças de vossas foices, e diga o fraco: eu sou
forte (Jl. 3:10)”. Neste texto me deparo com um cenário interessante: um
povo ameaçado pelo inimigo que ao abrir seu arsenal militar só encontra
enxadas, foices e fraqueza. O tempo de paz e calmaria foi longo. Não houveram
ameaças ou perigos; não haviam guerras ou batalhas e o povo se esqueceu de como
era lutar. Não haviam barreiras, obstáculos ou desafios e o povo não precisou
mais ser forte. Dançavam e cantavam despreocupadamente. Plantavam, colhiam e
festejavam a boa colheita. Tudo ia muito bem, até que o dia mal chegou e eles
não estavam preparados. Precisavam de espadas, mas só tinham enxadas.
Precisavam de lanças, mas só tinham foices e arados. Precisavam de força, mas
só acharam fraquezas. O povo se dedicou a plantar e a colher, mas se esqueceu
de como guerrear. Adaptaram-se ao ciclo seguro da terra, mas se esqueceram dos
imprevistos da vida. Viviam de estação a estação, mas renegaram o dia após o dia.
Quando não se planta, não se tem de onde colher, e a batalha pela sobrevivência
se torna diária, deixando nos alerta e preparados 24 horas por dia, 365 dias
por ano. Nunca somos surpreendidos pelo dia mal ou por nossos inimigos. Quando
eles chegam, já estamos armados e prontos pra guerra. O próprio Jesus contou a historia de um homem que após a maior colheita de sua vida, ordenou a sua alma que descansasse, pois os celeiros estavam transbordando, mas naquela mesma noite sua alma foi pedida, e pra onde ia, aquele homem não tinha nada a levar. As vezes nossa plantação tira o nosso foco do que realmente vale a pena ser cultivado.
Estas são apenas conjecturas que lampejam em minha mente no
afã da madrugada. O zeloso patriarca dos recabitas teve lá suas próprias
motivações ao estabelecer tais preceitos ao seu povo. Talvez as razões sejam
ainda mais nobres e profundas para o meu limitado conhecimento, ou talvez
fossem apenas por mero capricho (quem
sabe ele fosse alérgico a vinho, sentisse raiva de pedreiros e tivesse sido
picado por uma abelha em um pomar). Deus não questionou os preceitos e nem
as motivações intrínsecas nos mesmos. Não disse se estavam corretos ou
equivocados, se eram justos ou imponderáveis. Deus apenas elogiou a obediência
dos recabitas aos mandamentos de seu antepassado e trouxe uma mensagem valiosa
para Judá através do exemplo desta gente.
“Sim, é possível obedecer a um mandamento.
Sim, É possível mudar um comportamento. Sim, é possível dar ouvidos a voz de um
pai!”


Aprendi esta com
Deus..
Falando nisso, pequena criança, como anda seu comportamento,
hein?
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